segunda-feira, 28 de março de 2022

Requiem da desesperança

A boa nova chegou,
Cristo o Jesus, se anunciou de forma contudente;
Mares revoltos acalmados pelo sopro do assobio melódico ,
Tufões e invernias que deram lugar a primaveras luminosas simplesmente porque assim se agarrou com o movimento da sua mão esquerda os fios do vento tal qual como se comanda uma marioneta,
Guerras que caladas e bombas não detonadas, embora não dando lugar à concórdia entre os homens, que a paz é na mesma difícil mesmo sem armas; e se estas deixaram de matar os homens ainda assim lhes sobra a força das mãos.
Inequivocamente, Cristo o Jesus deu as suas provas de messias regressado à terra dos homens para que não fosse confundido com qualquer semelhante pregador sem artes de ler o destino destes gentios.
Bastou que as flores germinadas e secas pelo sol tórrido, 
Bastou que da terra solta e seca agora húmida pelos dias sombrios e alagados na invernia,
Pouco bastou, 
Quase nada em comparação com as ânsias provocadas pela sua aparição para se descobrisse falhado.
Decidindo sobre o seu destino,
A boa nova proclamada pela inequívoca presença se esfumou,
Sou a imagem do vosso projecto falhado de humanidade,
Sou o humanismo pungente que não consolidaram e ensinaram aos vossos filhos desde os tempos dos antigos avós sanguíneos,
Sou o vosso filho e a vossa imagem,
Sou o vosso pai e a minha obra não começada,
Sou todos os vossos antepassados. 
Afinal de contas não deixei de ser a vossa cobiça e egoísmo perpetuado num constante presente prolongado pela existência do futuro que confirma a cada passo o genocídio que cometem.
A boa nova não foi suficientemente sofrida para que por ela abdicassem da vossa condição de viver.
Outro chegará e às mesmas palavras que ouvirem reconhecereis estas que sendo ditas agora serão o futuro deste pretérito imperfeito.
(Requiem da desesperança)
Dagoberto de Andrade, habitante da península Esgríncia  (1848)

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