terça-feira, 13 de dezembro de 2016

... em suspenso

"Vida suspensa por morte do próprio e a seguinte teorização da memória, continuada por terceiros até não ficar mais que uma menção ou inscrição lapidar. 
Vida interrompida ou a brutalidade do acto mecânico de matar ou morrer, a fracção de tempo, a morte imediata ou o direito à memória de dor."

Rui Santos, 27/11/2016

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

"deus não existe"

"deus não existe"

"Eu não lhe consigo provar que deus não existe. A sua não existência ou evidência física e mensurável não me permite ter a veleidade de concluir pela sua inexistência. Assumo a regra matemática da probabilidade da ocorrência de um evento, que pelo facto de ainda não ter ocorrido é justificado pela ideia da sua possibilidade de vir a ocorrer. 
Porém, e com um porém afirmativo, não me conseguirás convencer da existência de deus através da sua mera explicação metafórica da ideia imaginária convencionada pelas obras litúrgicas; e que se seguires pela via da argumentação onde a prova da sua inexistência ou manifestação é em toda a sua extensão um defeito ou incapacidade pessoal de receber essa experiência cognitiva, não estarás mais do que a assumir em oposição ao que te disse, que deus é um assunto irresolúvel; pelo menos até ao dia em que ele se apresente à luz inequívoca do dia. 
Pois meu caro, se ele hipoteticamente se apresentasse de que credibilidade seria credor depois de tanto sangue derramado em seu nome? Com as mãos ensanguentadas e empunhando uma faca? 
Por quem oras preces em louvor da morte eterna, se em vida é o que sabes."

Rui Santos 20/11/2016

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

"Deus"

Deus,
Pai das guerras
Em teu nome matei
Em teu nome me mataram
Cegueira de sentidos e poderes.
Deus,
Senhor a quem baixam os olhos e as consciências
A quem temem
A quem oram
Que procuram.
Deus,
Que criaste servos e descobridores de um caminho sem retorno
Deus,
Responde.
Porque é que prometes a vida eterna a todos os mortos enterrados
Porque não facilitaste a vida de todos e assim prometerias 
o bem dos vivos em vez de glorificares a morte
Deus,
É tempo de recolheres e seguires.
Deixaste a Terra num lugar muito cruel

Rui Santos 16/11/2015

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

dos contrários

"dos contrários"

Se o perto é o contrário do distante,
O distante ambiguamente solidário com o longe.
Longe, lá longe, mas tão perto de te deixar de ver;
Seria o perto uma aproximação do pequeno e minúsculo ponto que daqui observava?
Com os braços apoiados no parapeito da janela
Franzia o sobrolho para serpentear a luz directa de um sol.que não conseguia enfrentar.
Piscava os olhos e percebia
Nem longe ou distante,
Perto ou próximo,
Assim simplesmente, de onde me encontrava
Não poderia antecipar a aceleração de chegada do tempo que haveria de me pertencer.
Nada mais restaria, perante a enormidade do longe e distante,
Senão buscar os resquícios do belo.
Assim na grandeza das ilusões 
A miragem era o sustentáculo da esperança.

(Rui Santos, 03/11/2016)

sábado, 3 de setembro de 2016

Desesperança

Do postigo aberto daquela porta térrea sai um latido,
alguém sem forças para chorar gemia como se fosse um cão perdido do seu dono.
A esperança perdida há muito abandonara aquela casa,
Aquela e as outras, muitas outras, na mesma serpentina que enrugava as curvas do passeio da rua por aí abaixo seguia num passo ascendente.
A esperança que se perdeu foi sempre uma ideia de futuro perpetuado através do passado de coisa nenhuma.
Presente, esses dias que correm e depois de deixarem de ter sido, passado próximo cavado em agruras de sangue corrido nas veias,
Passado ou a ilusão do tempo presente, agora morto, amanhã renascido num outro igual dia de parcas vontades.
Daquele postigo aberto de uma porta franqueada por abrir à demasiado tempo,
Solta-se uma musiquinha monocórdica de desgraças, um lamento contínuo.
Amanhã o futuro que é hoje,
Triste sina que os passos seguem,
Amanhã o passado que previsto se percebe, alguém adivinhou mais do que a velha morte poderia antecipar,
Esperança perdida que se cansou de esperar e seguiu caminho.
A morte que desgraçada aguardava a sua hora,
Sentada num banco, amargura em dor viva,
Velha cárcere, desesperada que alguém a leve
Até a morte precisa de uma esperança para poder matar.
No dia seguinte, o postigo foi fechado... a solidão da morte.

Rui Santos (02/09/2016)

"Contraluz"

Em contraluz
Em contra mão
De um sentido proibido
Até à marcha de urgência
Cerra as persianas 
Objector de consciência
A noite foi salva
O amanhã será para purificar as culpas
Mas quem decide a culpa
Quem inventou o pecado
Que ditames regulam novos cânones
Em contra mão chego
Em contraluz regresso

Rui Santos 30.8.15

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

"de trás do postigo"

Do postigo aberto daquela porta térrea sai um latido, 
alguém sem forças para chorar gemia como se fosse um cão perdido do seu dono. 
A esperança perdida há muito abandonara aquela casa,
Aquela e as outras, muitas outras, na mesma serpentina que enrugava as curvas do passeio da rua por aí abaixo seguia num passo ascendente.
A esperança que se perdeu foi sempre uma ideia de futuro perpetuado através do passado de coisa nenhuma.
Presente, esses dias que correm e depois de deixarem de ter sido, passado próximo cavado em agruras de sangue corrido nas veias,
Passado ou a ilusão do tempo presente, agora morto, amanhã renascido num outro igual dia de parcas vontades.
Daquele postigo aberto de uma porta franqueada por abrir à demasiado tempo,
Solta-se uma musiquinha monocórdica de desgraças, um lamento contínuo.
Amanhã o futuro que é hoje,
Triste sina que os passos seguem,
Amanhã o passado que previsto se percebe, alguém adivinhou mais do que a velha morte poderia antecipar,
Esperança perdida que se cansou de esperar e seguiu caminho.
A morte que desgraçada aguardava a sua hora,
Sentada num banco, amargura em dor viva,
Velha cárcere, desesperada que alguém a leve
Até a morte precisa de uma esperança para poder matar.
No dia seguinte, o postigo foi fechado... a solidão da morte.

Rui Santos - 02/09/2016

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

... sem nome...

Um anarquista libertário entrou num bosque denso
De trilhos encobertos pelos passos que faltaram à caminhada dos poucos passantes
Ao fundo uma árvore brilhava
Como se fosse possível que as árvores sejam mais do que a sua sombra
Inaudita e questionável
Sem sol para a abraçar
Sem lua para a beijar
Teimava brilhar sem chamamento ou atracção mística
Era só... brilhava 
Curiosidade e desprendimento de quem caminha e que sempre faz por chegar e chegando
Na beira da árvore
Uma placa tinha inscrito:
"Fiz o meu papel
Nasci da terra
Cresci
Vivi e a mais não aspiro
Que o meu sangue se transforme em pasta de papel 
Para viver outra vida nas páginas de um livro

Rui Santos 19.8.15

"Se fosse marinheiro"

"Se fosse marinheiro"

Se fosse marinheiro
Adoraria olhar para a espuma cortada pela quilha do navio
Se fosse pedreiro
Cada tijolo seria parte de um puzzle eterno 
Sendo agricultor teria vergonha de desperdiçar cada semente caída fora do sulco da enxada
Vantagem tiraria de cada ofício
Cada mestria com seus encantos
Cada saber com seus segredos
Sentir-me-ia culpado e condenado por usurpação destas vantagens
E então os operários, os artífices e os agricultores que também manejam os animais
E aqueles outros, iniciados aprendizes, senhores que outrora foram pequenos homens sem direito a ideais
Capatazes de si próprios
Que se fizeram homens sem saber
Se tivesse sido outra coisa
Outra coisa teria para contar
Simplesmente sendo isto
Sou o isto e o aquilo 
O este que me ensina
Aqueloutro que me deixou alguma coisa
E depois no fim
Ficando para contar tanta coisa diversa
Ficou algo por saber
E se eu tivesse sido outra coisa contrária ao que sou
Será que saberia estas mesmas coisas que tanto me agrada provar
Aflige-me saber ou pensar
Que poderia não conhecer isto tudo... 
Aflitivamente

Rui Santos 20.8.15

... sem nome...

"Sou ignorante e inculto
Não sei ler braille
Não entendo língua gestual
Birras, silêncios e amuos são muito complexos para o meu entendimento
Gosto de letras ditas e escritas de forma clara
Diálogos sustentáveis e esclarecidos... 
Enfim sou burro"

Rui Santos 22/08/2015

sábado, 6 de agosto de 2016

"Em ti repouso"

"Em ti repouso"

Em ti repouso
Afago docemente os meus pensamentos
Escondo-me de vergonha
Que ousadia diz o romancista
Escudo-me nas incertezas e tortuosos caminhos
Quando se deixa fluir ele segue
Quando se larga as rédeas do nosso ser consciente ele ganha vida
Porquê culpado
Eu ser fisico e material
A terra me há-de abraçar de novo
Até lá
Até lá meu amor
Em ti repouso
Já não censurado em mim próprio
Já resoluto e em paz com meus pecados
Sim 
Pecados sim
De carne
Da carne
Da tua carne
E agora... eis-me culpado perante o santo ofício da douta inquisição
Minha consciência não sucumbirá
Serei eu sempre e de novo
A "Espuma das Palavras" as minhas ditas
O fumo do que flui de mim
Caminhamos
O eu matéria
O eu observado
O eu consciente e em consciência do meu crime de ousar pensar-te
Em ti repousei meu ser

Rui Santos 5.8.15

quarta-feira, 27 de julho de 2016

"Foi a ti"

"Foi a ti"

Foi a certeza de ti
Lancei o chamamento
Foi a ti que chamei sem pronunciar o teu nome
Um grito quando não leva palavras
Mas que reconheceste o destino
Metamorfose humana
Dançavas dentro de água
Corrias entre as rochas e os corais
E mais não posso dizer ao mundo
És única Helena Mesquita para que sejas descoberta

Rui Santos 25/07/2015

"Violão"

"Violão"

Carrego meu violão
Sigo estrada fora
Toco acordes sem nexo
Sons sem ouvinte
Indiferentes paisagens aos meus desgarrados suspiros
Lebres e perdizes
Javalis e ouriços
Nenhuns ficam para escutar
Vejo um vulto longínquo
Caminhando
Não sei que destino o seu
Dedilhando o meu violão
Me faço anunciar
Ao longe esbracejas
Gritas Helena Mesquita
Que não pertube o sossego dos animais
Quão puro é o silêncio
Serena vida esta do campo

Rui Santos . 27.7.2015

domingo, 29 de maio de 2016

da inquietante urgência

"A complexidade do alienado que assume a benevolência do seu cárcere como uma natural ocupação e aprisionamento do seu ser, numa inquietante viagem entre a calma de quem vive a vida como se dispusesse ainda de mil anos, e ao mesmo tempo a oposta urgência de quem dispõe de poucas horas antes de se lhe esgotarem as últimas lufadas terminais e assim simplesmente deixar de ser."
Dagoberto de Andrade, habitante da península Esgríncia (1848)

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Matemáticas e contas que tais

Quando o EU e o TU são sempre uma conta matemática de resultado diverso, 
filosoficamente não palpável, mas com existência física. 
Eu mais Tu igual a Nós
Eu menos Tu igual a Eu
Eu vezes Tu igual a Nós elevada a potência
Eu a dividir pelo Tu igual a Menos Eu mais Nada de Ti

Rui Santos (26/05/2015)

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Inspirado em nomes de obras de José Saramago - "Palavras Trocadas" (25/05/2015)

"Palavras Trocadas"

... vivemos num autêntico "Ensaio sobre a Cegueira", 
que se repete num "Ensaio sobre a Lucidez"
... a alguns apetece partir numa "Jangada de Pedra", 
ou seguir na "Viagem do Elefante", 
porque as coisas que vivemos não são "Deste Mundo e do Outro".
Quando chegará de novo "A Noite", 
para que "Os Poemas Possíveis" possam ser de novo musicados?
Às vezes, sinto-me acabado de ser "Levantado do Chão", 
extenuado depois de uma "Viagem a Portugal", 
onde "Os Apontamentos" recolhidos, são peças soltas de uma passarola construída por um padre alucinado que vive num suposto estado de "Provavelmente Alegria". 
"O Ano da Morte de Ricardo Reis", que este, sendo "O Homem Duplicado" de Pessoa, 
viveu nas suas "Pequenas Memórias" 
as "Intermitências da Morte", 
dentro da "Caverna" em que este país se tornou, 
desde a famosa "História do Cerco de Lisboa".
Os censores andam aí, com a cara destapada ou com uma simples capa vestida, 
gritam e bramem aos céus "In Nomine Dei", "In Nomine Dei"!!!
... talvez em busca de outro "Evangelho Segundo Jesus Cristo"
... mas tenham atenção, que "Caim" marcado para sempre, 
dará outra oportunidade tal qual se tratasse de uma "Segunda Vida de Francisco de Assis".
Nesta "Terra do Pecado", onde falta a bondade ao homem, 
procuramos uma nova luz de esperança 
e que essa possa chegar sob o signo da "Maior Flor do Mundo".
"Que Farei com este Livro", 
onde constam todas as evangélicas atrocidades cometidas em nome de deuses, 
por homens raivosos e cegos de razão e moral... 
esses a quem lhe faltou sempre um "Manual de Pintura e Caligrafia" 
com os valores inscritos para a humanidade...

Inspirado em nomes de obras de José Saramago
Rui Santos (25/05/2015)

terça-feira, 17 de maio de 2016

Revisitando José Saramago

... vivemos num autêntico "Ensaio sobre a Cegueira", que se repete num "Ensaio sobre a Lucidez"... a alguns apetece partir numa "Jangada de Pedra", ou seguir na "Viagem do Elefante", porque as coisas que vivemos não são "Deste Mundo e do Outro".
Quando chegará de novo "A Noite" para que "Os Poemas Possíveis" possam ser de novo musicados?
Às vezes, sinto-me acabado de ser "Levantado do Chão", extenuado depois de uma "Viagem a Portugal", onde "Os Apontamentos" recolhidos, são peças soltas de uma passarola construída por um padre alucinado que vive num suposto estado de "Provavelmente Alegria".
"O Ano da Morte de Ricardo Reis", que este, sendo "O Homem Duplicado" de Pessoa, viveu nas suas "Pequenas Memórias" as "Intermitências da Morte", dentro da "Caverna" em que este país se tornou, desde a famosa "História do Cerco de Lisboa".
Os censores andam aí, com a cara destapada ou com uma simples capa vestida, gritam e bramem aos céus "In Nomine Dei", "In Nomine Dei"!!!... talvez em busca de outro "Evangelho Segundo Jesus Cristo"... mas tenham atenção, que "Caim" marcado para sempre, dará outra oportunidade tal qual fosse  uma "Segunda Vida de Francisco de Assis".
Nesta "Terra do Pecado", onde falta a bondade ao homem, procuramos uma nova luz de esperança e que essa possa chegar sob o signo da "Maior Flor do Mundo".
"Que Farei com este Livro", onde constam todas as evangélicas atrocidades cometidas em nome de deuses, por homens raivosos e cegos de razão e moral... esses a quem lhe faltou sempre um "Manual de Pintura e Caligrafia" com os valores inscritos para a humanidade.

domingo, 15 de maio de 2016

Hamôur Hamôur

Hamôur Hamôur

Hoje te levarei ao céu
Aos céus onde as nuvens são cristalinas
Os ventos sopram sempre de feição
Os raios solares serão fios de luz
Hoje te levarei, amor, nas asas dos meus desejos e pecados....

.... porra larga-me o pescoço que não consigo respirar...

Rui Santos, 15/05/2015

segunda-feira, 9 de maio de 2016

"Sailing sailing with me"

"Sailing sailing with me"

Navegando em águas tormentosas
Correntes marítimas fugidias
Avistamos porto seguro
Lá longe
Lá longe, tão longe que a vista mal alcança
Sobrevoam gaivotas e outros que tais
Cansados, extenuados e doridos
Abraçados de vento em popa
Chegou a hora de procurar lançar amarras
Aqui perto
Aqui perto, tão perto
Sailing, sailing with me

Rui Santos (09/05/2015)

sábado, 7 de maio de 2016

Morri de mim

Morri de mim
Ausentei-me e segui outra forma
Fruto de terra, renovado 
Chamaram-me de volta
Carbono, carbono, ouvi dizer
Esta terra tua, minha
Como poderia ser minha
Mas dizia, jaz aos pés de sua mãe
973 inscrito em letra rubra de sangue
Raios, por quem sou
Se até na terra escondido de vós somos numerados

(Rui Santos)

sexta-feira, 6 de maio de 2016

"Transparência"

Sou transparente
Sou denso
Não me aturo
Sou cristalino
Tenho coisas dentro

... mas só tu sabes...

terça-feira, 3 de maio de 2016

Produção de conhecimento

Da leitura do #1 da Revista Café com Letras
Entrevista a Ana Pato
Retenho a ideia e complemento
A sociedade produz conhecimento, seja através da escola ou das plataformas de investigação, e desperdiça este capital obtido por desaproveitamento do ciclo gerador de ideias. O conhecimento actual é produtor e alavanca criação de bens materiais e serviços transaccionáveis, com base na ideia mercantilista do lucro e que se esgota na produção intensiva a baixo custo e com degradação das relações sociais e laborais. 
Ora, se invertido este processo, o motor gerador deverá ser orientado para a produção de conhecimento que gerem conteúdos, estes, explicadores dos seus anteriores e criadores de novos conhecimentos, ou potenciadores de outros estágios de entendimento. 
O ser humano ver-se-á impelido a humanizar e distribuir o seu espólio de conhecimento e apresentá-lo nos seus diversos patamares de interacção e intervenção social à discussão dos demais.
A estupidificação do conhecimento hoje tangível, prepara a sociedade para um nivelamento cultural básico e pouco dinâmico.

"O amor é carne"

"O amor é carne"

Quando faço amor contigo
Me dispo de mim
Me dispo das peles e carapaças
Retiro as questões e opiniões
Esqueço as convicções
Quando faço amor contigo
Não sei se tenho inspiração ou suor
Sei que tenho as carnes fervendo
Ponho todas as emoções ao serviço do sexo carnal
... e esqueço
... e se sente
Quando faço amor contigo
Faço-o connosco

Rui Santos, 03/05/2015

quinta-feira, 28 de abril de 2016

"Para Helena"

"Para Helena"
Amor, amor, amor
Naquela esquina daquela tarde
Lá longe
Tão longe
Que na memória 
Vou guardando de detalhes
Amor, amor, amor...

(Rui Santos, 28/04/2015)

"Da alegria e a poesia tardia"

"Da alegria e a poesia tardia"

Amor... 
amor... 
amor...
Será a nossa vida uma poesia
Dedilhada em redondilha de rimas
Será a nossa vida contada em prosa
Corrida sem pontos nem vírgulas travadas
A teus pés faço uma cópia de um texto ditado
Não corrigido
Sem correcção
E que de todos os erros que dei
Sejam metáforas aos teus lindos olhos

(Rui Santos - 28/04/2015)

domingo, 24 de abril de 2016

Momento efémero

Liberta-me opressora
Amada e desejada
Carcereira que em teu cárcere me tens
Retenho-me nos teus braços
Sobrevivos ao aconchego
Liberta-me de mim
Aqui jaz num momento

Rui Santos, 24/04/2015

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Leitura final de encerramento, por Ódin Santos

Leitura final de encerramento, por Ódin Santos

Amar
Ter amor, afeição, devoção
Viver
Querer Bem
Ter vida
Estimar
Durar com vida
Morrer, deixar de viver, gostar, desejar muito, não chegar a concluir-se

“As festas em geral põe-me melancólico mas no regresso dei por mim a dizer a Pilar 
– «Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te conhecer, 
morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora».

Encontramo-nos noutro sítio.

Quando duas pessoas se casam sob o espírito Saramaguiano... "Aqui, agora, construímos uma “Esquina do Tempo”

"Aqui, agora, construímos uma “Esquina do Tempo”

Nesta esquina do tempo, onde o tempo é um "espaço físico", se une o passado como um acto que foi, e um futuro que será. O presente, esse não existe, é uma passagem, porque não podemos parar os momentos.

«Entendo o tempo como uma grande tela, uma tela imensa, onde os acontecimentos se projectam todos, desde os primeiros até aos de agora mesmo. Nessa tela, tudo está ao lado de tudo, numa espécie de caos, como se o tempo comprimido e além de comprimido espalmado, sobre essa superfície; é como se os acontecimentos, os factos, as pessoas, tudo isso aparecesse ali não diacronicamente arrumado, nas numa outra «arrumação caótica», na qual depois seria preciso encontrar um sentido.
Isto tem muito que ver com uma ideia que é a da não existência do presente. A única coisa que efectivamente há é passado e o presente não existe; é qualquer coisa que se joga continuamente, que não pode ser captada, apreendida, que não pode ser detida no seu curso; e portanto, uma vez que não pode ser detida, em momento nenhum eu posso intersecta-la.»
em Diálogos com José Saramago de Carlos Reis (Pág. 84)

Aqui projectamos uma imensa tela. Uma tela que paira sobre as nossas cabeças como se estivéssemos a observar uma carta celeste.
Nesta esquina do tempo, neste momento, damos lógica á teoria de que «o caos é uma ordem por decifrar».

Quem nos poderia ajudar a decifrar o caos?

Quem poderia dar justificação a este acto?

Eis então que fizemos uma lista de convidados.

Aqui está o elefante Salomão e seu cornaca Subhru, que partindo de Lisboa seguiram a passo pela Europa fora, até às longínquas terras da Áustria. (A Viagem do Elefante)

Da Olaria Algor, vieram o oleiro Cipriano Algor, sua filha Marta e o genro Marçal Gacho, sobreviventes do demoníaco Centro Comercial. (A Caverna)

Enviámos o mesmo convite para dois iguais. Não são gémeos mas são duplicado um do outro sem se perceber qual o original. Tertuliano Máximo Afonso, o professor de História e o actor Daniel Santa-Clara. (O Homem Duplicado)

Da União Ibérica viram sentir o pulsar da terra de Lisboa. Pedro Orce e o cão Ardant, Joaquim Sassa e José Anaiço. Joana Carda e Maria Guavaira. A península Ibérica separou-se pelos Pirinéus e viajámos pelo Atlântico. (A Jangada de Pedra)

Mandámos convidar Luis de Camões, que tendo escrito “Os Lusíadas” muito penou nas cortes de Lisboa para ter a possibilidade de imprimir e publicar o seu livro. Sem dinheiro para tal ofereceu o manuscrito à tipografia de António Gonçalves. (Que Farei com Este Livro?)

Da noite de 24 de Abril de 1974, estão presentes o redactor Torres e a estagiária Cláudia. Eles que garantiram uma revolução dentro da redação de um jornal alinhado com os poderes podres. (A Noite)
Do nosso Alentejo, vem a carne da luta e a terra de quem a trabalha. Chegaram Manuel Espada e Gracinda. (Levantado do Chão)

Foi preciso convidar alguém que nos levasse pelos céus e tivesse o dom de querer voar. Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, acompanham o padre Bartolomeu Lourenço, na sua “passarola” fugido das inquisições. (Memorial do Convento)          

Raimundo Silva, ilustre revisor de textos, que com a palavra «Não», deu uma nova interpretação ao sentido da história, está presente com Maria Sara, mulher que o fez renascer, e que, com quem numa janela virada para as muralhas do Castelo de São Jorge, descobriram o amor entre Mogueime e Ouruana. (História do Cerco de Lisboa)

Mesmo a tempo, atracou em Lisboa, perto da Casa dos Bicos, o navio Highland Brigade, vem de Buenos Aires com destino a Londres. A escala em Lisboa, serve para nos fazer chegar Ricardo Reis e seu mui nobre amigo Fernando Pessoa. (O Ano da Morte de Ricardo Reis)

Abel e Caim, entretanto de pazes feitas, irmãos de sangue que a história não devia tê-los feito desavindos (Caim), acompanham Maria de Magdala. Mulher que ensinou as artes da vida terrena a Jesus (O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

Todos são bem-vindos. Mas a presença da Mulher do Médico e do Cão das Lágrimas, são motivo de enorme orgulho. Ela porque não estando cega fez-se passar por tal, para acompanhar o seu marido, e viveu das piores experiências que alguém pode presenciar. O Cão das Lágrimas, porque num momento de desespero desta sua companheira, teve o poder de a reconfortar ao lamber-lhe as lágrimas que caiam pela face. (Ensaio sobre a Cegueira)

Um olá especial, a Artur Paz Semedo, que mesmo não lhe conhecendo o fim da sua história, sabemos o início através de uma pergunta. Porque é que as fábricas de armamento nunca fazem greves? (Alabardas Alabardas Espingardas Espingardas)

Convidámos também uma senhora que tempos idos, andou a distribuir uns envelopes de cor violeta. Essa senhora chama-se morte. Apaixonou-se pelo violoncelista que a acompanha, e tornou-se numa linda mulher que descobriu o amor. (As Intermitências da Morte)

Enigmático este casal, ele chama-se H e ela M. Um retratista que abandona as telas e se torna escritor. Uma mulher revolucionária que vê nascer a esperança na madrugada de 25 de Abril de 1974. (Manual de Pintura e Caligrafia)

E um agradecimento especial, ao solitário funcionário da Conservatória Geral do Registo Civil, o senhor José, que através de um simples verbete, de uma mulher desconhecida, faz a absurda busca para descobrir o seu paradeiro. (Todos os Nomes)

E por fim. O viajante. Aqui está o viajante. O homem que percorreu Portugal e o Mundo. Disse muitas coisas. Escreveu outras tantas coisas. E tal como o tempo é composto de passado que foi e futuro que virá a ser, a história deste viajante foi a celebração da vida.

«O Viajante volta já. (…) A viagem não acaba nunca. (…) O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.» 
em “Viagem a Portugal” página 387.

Mas não subiu aos céus, se à terra pertencia.   

Texto realizado para assinalar o acto de Casamento Civil 
Rui Santos e Helena Mesquita
15/06/2015

A previsibilidade da incerteza

Houvesse de novo o dia em que recordasse as vezes sem fim que os carris, torcidos e disformes, retirados da viagem certa, desembocavam sempre e sempre na certeza, e de tal forma previsível, ao ponto de muitas vezes circular sem maquinista. 
Sôfrego, a tempo, descobri o ponto do circuito onde nesse preciso lugar, toda previsibilidade da constante distorção poderia ser revertida num outro destino certo e seguro. 
O caminho foi enfim vencido, sem bem saber se nessa outra viagem o destino ancoraria num porto acolhedor, mas entre cruzar o certo da negritude ou a certeza da alternativa desconhecida, bem, meu caro, puxei freios e estanquei o rumo.
Outra viagem seria iniciada.
Rui Santos

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O último beijo

Dá-me um beijo como se fosse o último
Entrega o teu saber nesse beijo como se nunca mais estivéssemos
Imagina que me fui e que num suspiro antes, antes mesmo,  
À janela daquele vapor... um último beijo morreu... onde outro nasceu...

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Deixara eu...

Deixara eu que meus medos me sugassem a alma, em corpo desprevenido... e agora, silêncio, murmúrio murmurado lá longe quase que se extingue. 
Para onde vai a alma. 
Não vai. 
Perde-se. 
Evapora-se.
E o corpo desce à sua origem, o átomo de carbono em recomposição

Sozinho, solitário e solidão

" Sozinho, solitário e solidão. Nunca se está sozinho na companhia de um livro. Solitário, aquele que sentado no banco de jardim, não consegue vislumbrar o som do silêncio. Solidão vivida, e quando sozinho se aproxima a morte, solitário, o espelho do quarto não reflecte mais que uma imagem ténue... a vida foi gasta"

domingo, 10 de abril de 2016

A "loba"

Ela cheia de volúpia e com gestos muito femininos
Olhou-o nos olhos
Cruzou as pernas e tirou algo da sua mala que segurava no seu colo
Esboçou um sorriso
Não gozava nem ria, mas ele estava desenhado
Em cima da mesa deposita um preservativo
Ele astuto e confiante sentiu que sua presa estava ganha
Simplesmente disse, 
Afirmou:
"Também te desejo!"
Como poderia perguntar se tal evidência respeitava o sinal mais básico e carnal da caçada adquirida
"Vamos subir ao meu quarto!"
Ela com seu puro e gélido ar de malícia, 
Tal qual o arqueiro aponta o seu alvo ou a aranha na sua teia,
Deliciosamente respondeu num sussurro
"Guarda esta protecção. Protege o mundo de ti."
A vida dele tinha descido num ápice ao seu ponto inicial, indefeso e idêntico ao de um recém nascido desprovido de qualquer forma de autonomia.
A loba, ora desprotegida, agora predadora
Sentia que defendia a próxima vítima

Rui Santos (10/04/2016)