sábado, 3 de setembro de 2016

Desesperança

Do postigo aberto daquela porta térrea sai um latido,
alguém sem forças para chorar gemia como se fosse um cão perdido do seu dono.
A esperança perdida há muito abandonara aquela casa,
Aquela e as outras, muitas outras, na mesma serpentina que enrugava as curvas do passeio da rua por aí abaixo seguia num passo ascendente.
A esperança que se perdeu foi sempre uma ideia de futuro perpetuado através do passado de coisa nenhuma.
Presente, esses dias que correm e depois de deixarem de ter sido, passado próximo cavado em agruras de sangue corrido nas veias,
Passado ou a ilusão do tempo presente, agora morto, amanhã renascido num outro igual dia de parcas vontades.
Daquele postigo aberto de uma porta franqueada por abrir à demasiado tempo,
Solta-se uma musiquinha monocórdica de desgraças, um lamento contínuo.
Amanhã o futuro que é hoje,
Triste sina que os passos seguem,
Amanhã o passado que previsto se percebe, alguém adivinhou mais do que a velha morte poderia antecipar,
Esperança perdida que se cansou de esperar e seguiu caminho.
A morte que desgraçada aguardava a sua hora,
Sentada num banco, amargura em dor viva,
Velha cárcere, desesperada que alguém a leve
Até a morte precisa de uma esperança para poder matar.
No dia seguinte, o postigo foi fechado... a solidão da morte.

Rui Santos (02/09/2016)

"Contraluz"

Em contraluz
Em contra mão
De um sentido proibido
Até à marcha de urgência
Cerra as persianas 
Objector de consciência
A noite foi salva
O amanhã será para purificar as culpas
Mas quem decide a culpa
Quem inventou o pecado
Que ditames regulam novos cânones
Em contra mão chego
Em contraluz regresso

Rui Santos 30.8.15

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

"de trás do postigo"

Do postigo aberto daquela porta térrea sai um latido, 
alguém sem forças para chorar gemia como se fosse um cão perdido do seu dono. 
A esperança perdida há muito abandonara aquela casa,
Aquela e as outras, muitas outras, na mesma serpentina que enrugava as curvas do passeio da rua por aí abaixo seguia num passo ascendente.
A esperança que se perdeu foi sempre uma ideia de futuro perpetuado através do passado de coisa nenhuma.
Presente, esses dias que correm e depois de deixarem de ter sido, passado próximo cavado em agruras de sangue corrido nas veias,
Passado ou a ilusão do tempo presente, agora morto, amanhã renascido num outro igual dia de parcas vontades.
Daquele postigo aberto de uma porta franqueada por abrir à demasiado tempo,
Solta-se uma musiquinha monocórdica de desgraças, um lamento contínuo.
Amanhã o futuro que é hoje,
Triste sina que os passos seguem,
Amanhã o passado que previsto se percebe, alguém adivinhou mais do que a velha morte poderia antecipar,
Esperança perdida que se cansou de esperar e seguiu caminho.
A morte que desgraçada aguardava a sua hora,
Sentada num banco, amargura em dor viva,
Velha cárcere, desesperada que alguém a leve
Até a morte precisa de uma esperança para poder matar.
No dia seguinte, o postigo foi fechado... a solidão da morte.

Rui Santos - 02/09/2016