quinta-feira, 28 de abril de 2016

"Para Helena"

"Para Helena"
Amor, amor, amor
Naquela esquina daquela tarde
Lá longe
Tão longe
Que na memória 
Vou guardando de detalhes
Amor, amor, amor...

(Rui Santos, 28/04/2015)

"Da alegria e a poesia tardia"

"Da alegria e a poesia tardia"

Amor... 
amor... 
amor...
Será a nossa vida uma poesia
Dedilhada em redondilha de rimas
Será a nossa vida contada em prosa
Corrida sem pontos nem vírgulas travadas
A teus pés faço uma cópia de um texto ditado
Não corrigido
Sem correcção
E que de todos os erros que dei
Sejam metáforas aos teus lindos olhos

(Rui Santos - 28/04/2015)

domingo, 24 de abril de 2016

Momento efémero

Liberta-me opressora
Amada e desejada
Carcereira que em teu cárcere me tens
Retenho-me nos teus braços
Sobrevivos ao aconchego
Liberta-me de mim
Aqui jaz num momento

Rui Santos, 24/04/2015

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Leitura final de encerramento, por Ódin Santos

Leitura final de encerramento, por Ódin Santos

Amar
Ter amor, afeição, devoção
Viver
Querer Bem
Ter vida
Estimar
Durar com vida
Morrer, deixar de viver, gostar, desejar muito, não chegar a concluir-se

“As festas em geral põe-me melancólico mas no regresso dei por mim a dizer a Pilar 
– «Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te conhecer, 
morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora».

Encontramo-nos noutro sítio.

Quando duas pessoas se casam sob o espírito Saramaguiano... "Aqui, agora, construímos uma “Esquina do Tempo”

"Aqui, agora, construímos uma “Esquina do Tempo”

Nesta esquina do tempo, onde o tempo é um "espaço físico", se une o passado como um acto que foi, e um futuro que será. O presente, esse não existe, é uma passagem, porque não podemos parar os momentos.

«Entendo o tempo como uma grande tela, uma tela imensa, onde os acontecimentos se projectam todos, desde os primeiros até aos de agora mesmo. Nessa tela, tudo está ao lado de tudo, numa espécie de caos, como se o tempo comprimido e além de comprimido espalmado, sobre essa superfície; é como se os acontecimentos, os factos, as pessoas, tudo isso aparecesse ali não diacronicamente arrumado, nas numa outra «arrumação caótica», na qual depois seria preciso encontrar um sentido.
Isto tem muito que ver com uma ideia que é a da não existência do presente. A única coisa que efectivamente há é passado e o presente não existe; é qualquer coisa que se joga continuamente, que não pode ser captada, apreendida, que não pode ser detida no seu curso; e portanto, uma vez que não pode ser detida, em momento nenhum eu posso intersecta-la.»
em Diálogos com José Saramago de Carlos Reis (Pág. 84)

Aqui projectamos uma imensa tela. Uma tela que paira sobre as nossas cabeças como se estivéssemos a observar uma carta celeste.
Nesta esquina do tempo, neste momento, damos lógica á teoria de que «o caos é uma ordem por decifrar».

Quem nos poderia ajudar a decifrar o caos?

Quem poderia dar justificação a este acto?

Eis então que fizemos uma lista de convidados.

Aqui está o elefante Salomão e seu cornaca Subhru, que partindo de Lisboa seguiram a passo pela Europa fora, até às longínquas terras da Áustria. (A Viagem do Elefante)

Da Olaria Algor, vieram o oleiro Cipriano Algor, sua filha Marta e o genro Marçal Gacho, sobreviventes do demoníaco Centro Comercial. (A Caverna)

Enviámos o mesmo convite para dois iguais. Não são gémeos mas são duplicado um do outro sem se perceber qual o original. Tertuliano Máximo Afonso, o professor de História e o actor Daniel Santa-Clara. (O Homem Duplicado)

Da União Ibérica viram sentir o pulsar da terra de Lisboa. Pedro Orce e o cão Ardant, Joaquim Sassa e José Anaiço. Joana Carda e Maria Guavaira. A península Ibérica separou-se pelos Pirinéus e viajámos pelo Atlântico. (A Jangada de Pedra)

Mandámos convidar Luis de Camões, que tendo escrito “Os Lusíadas” muito penou nas cortes de Lisboa para ter a possibilidade de imprimir e publicar o seu livro. Sem dinheiro para tal ofereceu o manuscrito à tipografia de António Gonçalves. (Que Farei com Este Livro?)

Da noite de 24 de Abril de 1974, estão presentes o redactor Torres e a estagiária Cláudia. Eles que garantiram uma revolução dentro da redação de um jornal alinhado com os poderes podres. (A Noite)
Do nosso Alentejo, vem a carne da luta e a terra de quem a trabalha. Chegaram Manuel Espada e Gracinda. (Levantado do Chão)

Foi preciso convidar alguém que nos levasse pelos céus e tivesse o dom de querer voar. Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, acompanham o padre Bartolomeu Lourenço, na sua “passarola” fugido das inquisições. (Memorial do Convento)          

Raimundo Silva, ilustre revisor de textos, que com a palavra «Não», deu uma nova interpretação ao sentido da história, está presente com Maria Sara, mulher que o fez renascer, e que, com quem numa janela virada para as muralhas do Castelo de São Jorge, descobriram o amor entre Mogueime e Ouruana. (História do Cerco de Lisboa)

Mesmo a tempo, atracou em Lisboa, perto da Casa dos Bicos, o navio Highland Brigade, vem de Buenos Aires com destino a Londres. A escala em Lisboa, serve para nos fazer chegar Ricardo Reis e seu mui nobre amigo Fernando Pessoa. (O Ano da Morte de Ricardo Reis)

Abel e Caim, entretanto de pazes feitas, irmãos de sangue que a história não devia tê-los feito desavindos (Caim), acompanham Maria de Magdala. Mulher que ensinou as artes da vida terrena a Jesus (O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

Todos são bem-vindos. Mas a presença da Mulher do Médico e do Cão das Lágrimas, são motivo de enorme orgulho. Ela porque não estando cega fez-se passar por tal, para acompanhar o seu marido, e viveu das piores experiências que alguém pode presenciar. O Cão das Lágrimas, porque num momento de desespero desta sua companheira, teve o poder de a reconfortar ao lamber-lhe as lágrimas que caiam pela face. (Ensaio sobre a Cegueira)

Um olá especial, a Artur Paz Semedo, que mesmo não lhe conhecendo o fim da sua história, sabemos o início através de uma pergunta. Porque é que as fábricas de armamento nunca fazem greves? (Alabardas Alabardas Espingardas Espingardas)

Convidámos também uma senhora que tempos idos, andou a distribuir uns envelopes de cor violeta. Essa senhora chama-se morte. Apaixonou-se pelo violoncelista que a acompanha, e tornou-se numa linda mulher que descobriu o amor. (As Intermitências da Morte)

Enigmático este casal, ele chama-se H e ela M. Um retratista que abandona as telas e se torna escritor. Uma mulher revolucionária que vê nascer a esperança na madrugada de 25 de Abril de 1974. (Manual de Pintura e Caligrafia)

E um agradecimento especial, ao solitário funcionário da Conservatória Geral do Registo Civil, o senhor José, que através de um simples verbete, de uma mulher desconhecida, faz a absurda busca para descobrir o seu paradeiro. (Todos os Nomes)

E por fim. O viajante. Aqui está o viajante. O homem que percorreu Portugal e o Mundo. Disse muitas coisas. Escreveu outras tantas coisas. E tal como o tempo é composto de passado que foi e futuro que virá a ser, a história deste viajante foi a celebração da vida.

«O Viajante volta já. (…) A viagem não acaba nunca. (…) O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.» 
em “Viagem a Portugal” página 387.

Mas não subiu aos céus, se à terra pertencia.   

Texto realizado para assinalar o acto de Casamento Civil 
Rui Santos e Helena Mesquita
15/06/2015

A previsibilidade da incerteza

Houvesse de novo o dia em que recordasse as vezes sem fim que os carris, torcidos e disformes, retirados da viagem certa, desembocavam sempre e sempre na certeza, e de tal forma previsível, ao ponto de muitas vezes circular sem maquinista. 
Sôfrego, a tempo, descobri o ponto do circuito onde nesse preciso lugar, toda previsibilidade da constante distorção poderia ser revertida num outro destino certo e seguro. 
O caminho foi enfim vencido, sem bem saber se nessa outra viagem o destino ancoraria num porto acolhedor, mas entre cruzar o certo da negritude ou a certeza da alternativa desconhecida, bem, meu caro, puxei freios e estanquei o rumo.
Outra viagem seria iniciada.
Rui Santos

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O último beijo

Dá-me um beijo como se fosse o último
Entrega o teu saber nesse beijo como se nunca mais estivéssemos
Imagina que me fui e que num suspiro antes, antes mesmo,  
À janela daquele vapor... um último beijo morreu... onde outro nasceu...

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Deixara eu...

Deixara eu que meus medos me sugassem a alma, em corpo desprevenido... e agora, silêncio, murmúrio murmurado lá longe quase que se extingue. 
Para onde vai a alma. 
Não vai. 
Perde-se. 
Evapora-se.
E o corpo desce à sua origem, o átomo de carbono em recomposição

Sozinho, solitário e solidão

" Sozinho, solitário e solidão. Nunca se está sozinho na companhia de um livro. Solitário, aquele que sentado no banco de jardim, não consegue vislumbrar o som do silêncio. Solidão vivida, e quando sozinho se aproxima a morte, solitário, o espelho do quarto não reflecte mais que uma imagem ténue... a vida foi gasta"

domingo, 10 de abril de 2016

A "loba"

Ela cheia de volúpia e com gestos muito femininos
Olhou-o nos olhos
Cruzou as pernas e tirou algo da sua mala que segurava no seu colo
Esboçou um sorriso
Não gozava nem ria, mas ele estava desenhado
Em cima da mesa deposita um preservativo
Ele astuto e confiante sentiu que sua presa estava ganha
Simplesmente disse, 
Afirmou:
"Também te desejo!"
Como poderia perguntar se tal evidência respeitava o sinal mais básico e carnal da caçada adquirida
"Vamos subir ao meu quarto!"
Ela com seu puro e gélido ar de malícia, 
Tal qual o arqueiro aponta o seu alvo ou a aranha na sua teia,
Deliciosamente respondeu num sussurro
"Guarda esta protecção. Protege o mundo de ti."
A vida dele tinha descido num ápice ao seu ponto inicial, indefeso e idêntico ao de um recém nascido desprovido de qualquer forma de autonomia.
A loba, ora desprotegida, agora predadora
Sentia que defendia a próxima vítima

Rui Santos (10/04/2016)