quarta-feira, 30 de março de 2022

ironia da vida

Ironia da vida
Enquanto a Clotilde aproveitou para ir ao cabeleireiro e apresentar-se no almoço todo chique com as amigas, o Adérito foi à loja de ferragens e comprou um rolo de corda para se enforcar, atirando-se do quinto andar virado para a avenida principal.
Barricou-se por dentro de casa e matou-se do lado de fora da janela.
Já em pleno almoço, no meio de felizes e estridentes gargalhadas, o restaurante foi baixando o som e desviando atenção para a televisão que até ali mal marcava a presença.
A câmara do repórter debaixo de um som solene e monocórdico, apontava uma enorme escada dos bombeiros que a custo e de forma periclitante se abeirava do corpo já frio da vida.
A boa da Clotilde, levantou-se e em passos curtos muito nervosos, se aproximou da televisão pendurada no alto da parede. Reconheceu o prédio, a varanda, a sua roupa estendida que aparecia na imagem... e também o corpo que era descido da corda pelos dois bombeiros.
Era uma corda nova de nó fácil mas eficaz.
Balbuciou, porquê... Claro, porquê...
Entretanto, do silêncio irrompe o som do seu telemóvel. Aquele toque divertido que apelava a danças latinas das discotecas da moda. 
Era a dona do cabeleireiro onde a Clotilde tinha estado duas horas antes a dizer que tinha lá ficado um colar esquecido.
Ironia da vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário