segunda-feira, 22 de agosto de 2016

... sem nome...

Um anarquista libertário entrou num bosque denso
De trilhos encobertos pelos passos que faltaram à caminhada dos poucos passantes
Ao fundo uma árvore brilhava
Como se fosse possível que as árvores sejam mais do que a sua sombra
Inaudita e questionável
Sem sol para a abraçar
Sem lua para a beijar
Teimava brilhar sem chamamento ou atracção mística
Era só... brilhava 
Curiosidade e desprendimento de quem caminha e que sempre faz por chegar e chegando
Na beira da árvore
Uma placa tinha inscrito:
"Fiz o meu papel
Nasci da terra
Cresci
Vivi e a mais não aspiro
Que o meu sangue se transforme em pasta de papel 
Para viver outra vida nas páginas de um livro

Rui Santos 19.8.15

"Se fosse marinheiro"

"Se fosse marinheiro"

Se fosse marinheiro
Adoraria olhar para a espuma cortada pela quilha do navio
Se fosse pedreiro
Cada tijolo seria parte de um puzzle eterno 
Sendo agricultor teria vergonha de desperdiçar cada semente caída fora do sulco da enxada
Vantagem tiraria de cada ofício
Cada mestria com seus encantos
Cada saber com seus segredos
Sentir-me-ia culpado e condenado por usurpação destas vantagens
E então os operários, os artífices e os agricultores que também manejam os animais
E aqueles outros, iniciados aprendizes, senhores que outrora foram pequenos homens sem direito a ideais
Capatazes de si próprios
Que se fizeram homens sem saber
Se tivesse sido outra coisa
Outra coisa teria para contar
Simplesmente sendo isto
Sou o isto e o aquilo 
O este que me ensina
Aqueloutro que me deixou alguma coisa
E depois no fim
Ficando para contar tanta coisa diversa
Ficou algo por saber
E se eu tivesse sido outra coisa contrária ao que sou
Será que saberia estas mesmas coisas que tanto me agrada provar
Aflige-me saber ou pensar
Que poderia não conhecer isto tudo... 
Aflitivamente

Rui Santos 20.8.15

... sem nome...

"Sou ignorante e inculto
Não sei ler braille
Não entendo língua gestual
Birras, silêncios e amuos são muito complexos para o meu entendimento
Gosto de letras ditas e escritas de forma clara
Diálogos sustentáveis e esclarecidos... 
Enfim sou burro"

Rui Santos 22/08/2015

sábado, 6 de agosto de 2016

"Em ti repouso"

"Em ti repouso"

Em ti repouso
Afago docemente os meus pensamentos
Escondo-me de vergonha
Que ousadia diz o romancista
Escudo-me nas incertezas e tortuosos caminhos
Quando se deixa fluir ele segue
Quando se larga as rédeas do nosso ser consciente ele ganha vida
Porquê culpado
Eu ser fisico e material
A terra me há-de abraçar de novo
Até lá
Até lá meu amor
Em ti repouso
Já não censurado em mim próprio
Já resoluto e em paz com meus pecados
Sim 
Pecados sim
De carne
Da carne
Da tua carne
E agora... eis-me culpado perante o santo ofício da douta inquisição
Minha consciência não sucumbirá
Serei eu sempre e de novo
A "Espuma das Palavras" as minhas ditas
O fumo do que flui de mim
Caminhamos
O eu matéria
O eu observado
O eu consciente e em consciência do meu crime de ousar pensar-te
Em ti repousei meu ser

Rui Santos 5.8.15