segunda-feira, 28 de março de 2022

ciclo da vida

E chegado ao destino a morte perguntou se estaria preparado para a acompanhar. Um murmúrio de vozes crepitando soluços chorados, adivinhava a passagem daquele estado de tudo para um outro de nada. 
Lá longe, tão longe quão conseguiria perceber estava uma pequena comissão de boas vindas, de vozes tão trágicas e encenadas, tantas vezes quantos aqueles que morreram.
Aqueles outros, ali fora pendurados, que por não terem morrido, mas antecipado a data prevista da sua morte, esses não eram bem vindos. Ficavam simplesmente. 
A morte e todo o seu séquito de acompanhamento nunca abririam a porta aos suicidas. Esses traidores que contrariavam a linha básica da existência. 
Ali, simplesmente se iluminava o caminho para os escolhidos.

. E esse saco que trazes é o quê? 
. É um saco vazio cheio de nada. Deixei lá tudo, mas trago as perguntas.
. As tuas perguntas não têm resposta... e simples assim; nada, e neste eterno futuro do nada e não de nada, encontrarás a contemplação do vazio. Nunca mais serás. 
. Este choro que ainda oiço? 
. Não é choro. É o peso da culpa. Esses lamentos vociferados terminarão quando de ti não sejas mais que uma longínqua memória. Enquanto de ti se lembrarem, ouvirás uma fraca sensação de zumbido. Vozes carpideiras que replicam murmúrios. Depois o mármore deixará ser luzidio e ficará sujo, sujo da culpa e do esquecimento. 
. E a vida...
. A morte é a nova vida

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