Um turista de visita a uma cidade estrangeira, pegou no primeiro mapa que lhe apareceu à frente. Como não conhecia a lingua e grafias locais, seguiu a sua visita de 8 dias na certeza que estaria no caminho certo.
Passada a primeira manhã, e numa profunda desorientação, começou à procura de um ponto de referência tomado como partida para a visita. Passados 7 dias encontrou o aeroporto que o traria de volta.
Pensou! Que genial maneira de se visitar uma cidade ao mesmo tempo que estamos perdidos.
Baseado num diálogo de Gonçalo M Tavares

Sailing sailing with me

Sailing sailing with me

Navegando em águas tormentosas
Correntes marítimas fugidias
Avistamos porto seguro
Lá longe
Lá longe, tão longe que a vista mal alcança
Sobrevoam gaivotas e outros que tais
Cansados, extenuados e doridos
Abraçados de vento em popa
Chegou a hora de procurar lançar amarras
Aqui perto
Aqui perto, tão perto
Sailing, sailing with me

para falar de deus

- Bom dia minha senhora, peço licença para lhe falar de Deus...
- Entre entre jovem, sim falemos de Deus
- Muito obrigada Senhora. Sabe Deus não existe, e venho-lhe dizer...
- Vens o quê... mas o que estás para aí a dizer, que blasfémia. Deus existe e está em nós... põe-te na rua homem do diabo
- Já agora, o Diabo também não existe... isto são tudo histórias inventadas nos idos tempos de (ouvem-se dois tiros)
- ... Deus nosso senhor me perdoe se o matei mas já me estava a arreliar

... em suspenso

... em suspenso
"Vida suspensa por morte do próprio e a seguinte teorização da memória, continuada por terceiros até não ficar mais que uma menção ou inscrição lapidar.
Vida interrompida ou a brutalidade do acto mecânico de matar ou morrer, a fracção de tempo, a morte imediata ou o direito à memória de dor."

Rui Santos, 27/11/2016

Deus?

Deus.
Onde se encontra Deus?
Na Bíblia.
O que é a Bíblia?
É um livro.
Um Livro? Deus está nesse livro?
Sim, e também estão outros seus seguidores.
Deus então é a personagem principal desse livro?
Verdade!!
É a Bíblia é um romance? Qual o estilo literário?
A Bíblia é um livro de dor, sofrimento e morte...
Shhiiii então é de terror!!!!
Deus é uma personagem macabra. O "homem" criou Deus e escondeu-o na Bíblia, depois esqueceu-se do que criou e foi à procura de uma explicação para o inexplicável e inexistente. Não encontrando uma justificação convincente passa a idolatrar o imperceptível.
Mas Deus é uma personagem literária?
É um best-seller. Deve estar riquíssimo e cheio de Ferraris vermelhos.
Vermelhos? Deus é comunista?
O Carlos Marx é que era; Deus é só um fantasma a foder o mundo desde que o homem inventou o fogo e a roda e precisou de arranjar desculpas para umas escapadelas.
Olha vou ler os Maias!
Isso, fazes bem.

Morri de mim

Morri de mim
Ausentei-me e segui outra forma
Fruto de terra, renovado
Chamaram-me de volta
Carbono, carbono, ouvi dizer
Esta terra tua, minha
Como poderia ser minha
Mas dizia, jaz aos pés de sua mãe
973 inscrito em letra rubra de sangue
Raios, por quem sou
Se até na terra escondido de vós somos numerados
(Rui Santos)

4 de maio de 2020

A astronomia olha para o passado inicial, o longínquo e a busca da resposta fundamental. Sabemos da ocorrência do Big Bang, e depois disso? Como refazer a cronologia?
Já a ecologia observa o futuro com a lente da preservação e salvação das espécies com salvaguarda da existência humana. Aponta um caminho.
No entretanto a humanidade... ou a equiparação da pureza do sincronismo de uma orquestra; dos gestos mecânicos e implícitos do erro humano corrigidos pela repetição até à obtenção do som último na escala da harmonia. A harmonia do Maestro.
Morre o Maestro, reconstrução de outra pureza sincronizada.

"Em ti repouso"

"Em ti repouso"

Em ti repouso
Afago docemente os meus pensamentos
Escondo-me de vergonha
Que ousadia diz o romancista
Escudo-me nas incertezas e tortuosos caminhos
Quando se deixa fluir ele segue
Quando se larga as rédeas do nosso ser consciente ele ganha vida
Porquê culpado
Eu ser fisico e material
A terra me há-de abraçar de novo
Até lá
Até lá meu amor
Em ti repouso
Já não censurado em mim próprio
Já resoluto e em paz com meus pecados
Sim
Pecados sim
De carne
Da carne
Da tua carne
E agora... eis-me culpado perante o santo ofício da douta inquisição
Minha consciência não sucumbirá
Serei eu sempre e de novo
A "Espuma das Palavras" as minhas ditas
O fumo do que flui de mim
Caminhamos
O eu matéria
O eu observado
O eu consciente e em consciência do meu crime de ousar pensar-te
Em ti repousei meu ser

Rui Santos (5.8.15)

"Alvorada"

"Alvorada"
Madrugada que se finda
Ainda forte e pronunciada
Rasgos de luz que se encaminham
Vão perfurando por entre as nuvens
A esta hora já os corpos serviçais
Os gentios amargurados e sentidos
A esta hora os obliterados caminham
Barco após barco
Comboio após comboio
Todos se entrecruzam
A esta hora por uns miseráveis dinheiros
Os gentios que não adormecem
Retornam o seu pesadelo
Descalços vão à sua míngua fonte
E lá restam...

(5/1/16)

O meu nariz

" O meu nariz nunca se mexe, raras vezes funga e as narinas por inerência lá dão de si. Pois não conta quando nos assoamos. O nariz não pede para se mexer.
Ao invés, estas pernas não param de dar de si. Andam sempre apressadas.
Safadas... deixem o nariz sossegado no seu canto"

Da leitura do #1 da Revista Café com Letras

Da leitura do #1 da Revista Café com Letras Entrevista a Ana Pato Retenho a ideia e complemento A sociedade produz conhecimento, seja através da escola ou das plataformas de investigação, e desperdiça este capital obtido por desaproveitamento do ciclo gerador de ideias. O conhecimento actual é produtor e alavanca criação de bens materiais e serviços transaccionáveis, com base na ideia mercantilista do lucro e que se esgota na produção intensiva a baixo custo e com degradação das relações sociais e laborais. Ora, se invertido este processo, o motor gerador deverá ser orientado para a produção de conhecimento que gerem conteúdos, estes, explicadores dos seus anteriores e criadores de novos conhecimentos, ou potenciadores de outros estágios de entendimento. O ser humano ver-se-á impelido a humanizar e distribuir o seu espólio de conhecimento e apresentá-lo nos seus diversos patamares de interacção e intervenção social à discussão dos demais. A estupidificação do conhecimento hoje tangível, prepara a sociedade para um nivelamento cultural básico e pouco dinâmico.

"O amor é carne"

( Helena Mesquita )

"O amor é carne"

Quando faço amor contigo
Me dispo de mim
Me dispo das peles e carapaças
Retiro as questões e opiniões
Esqueço as convicções

Quando faço amor contigo
Não sei se tenho inspiração ou suor
Sei que tenho as carnes fervendo
Ponho todas as emoções ao serviço do sexo carnal

... e esqueço
... e se sente

Quando faço amor contigo
Faço-o connosco

"Não me venhas com a história do Deus nos proteja, se assim fosse, o mundo não seria esta latrina irrespirável, onde o homem é o máximo predador de si mesmo e das espécies que aqui coabitam."
Deus a metáfora, criação e embuste do homem sobre o seu próximo.
Dagoberto de Andrade, habitante da península Esgríncia (1848)