Do postigo aberto daquela porta térrea sai um latido,
alguém sem forças para chorar gemia como se fosse um cão perdido do seu dono.
A esperança perdida há muito abandonara aquela casa,
Aquela e as outras, muitas outras, na mesma serpentina que enrugava as curvas do passeio da rua por aí abaixo seguia num passo ascendente.
A esperança que se perdeu foi sempre uma ideia de futuro perpetuado através do passado de coisa nenhuma.
Presente, esses dias que correm e depois de deixarem de ter sido, passado próximo cavado em agruras de sangue corrido nas veias,
Passado ou a ilusão do tempo presente, agora morto, amanhã renascido num outro igual dia de parcas vontades.
Daquele postigo aberto de uma porta franqueada por abrir à demasiado tempo,
Solta-se uma musiquinha monocórdica de desgraças, um lamento contínuo.
Amanhã o futuro que é hoje,
Triste sina que os passos seguem,
Amanhã o passado que previsto se percebe, alguém adivinhou mais do que a velha morte poderia antecipar,
Esperança perdida que se cansou de esperar e seguiu caminho.
A morte que desgraçada aguardava a sua hora,
Sentada num banco, amargura em dor viva,
Velha cárcere, desesperada que alguém a leve
Até a morte precisa de uma esperança para poder matar.
No dia seguinte, o postigo foi fechado... a solidão da morte.
Rui Santos - 02/09/2016
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